domingo, 19 de junho de 2011

Acolher e ser acolhido

Mais uma bela experiência do nosso amigo Cézar...:

Naquele primeiro posto de abastecimento da Rodovia dos Trabalhadores, saindo de São Paulo, muita gente estaciona e "dá um tempo", também para comer e se preparar melhor e depois seguir viagem.

Foi o que fizemos também, eu e os gêmeos, Ariel e Matheus, ainda pequenos, pois íamos para um desses acampamento em Cachoeira Paulista, e nosso carro precisava de atenção permanente pois não era novo e nos preocupava. Abastecemos, fomos ao banheiro, nos preparamos para continuar, e aí... o gerente do posto me alertou de que o funcionário que nos atendeu o havia informado de que nosso radiador ia ter problemas em breve pois parecia ter uma peça com funcionamento incorreto.

Por já conhecer nosso carro, e pela temperatura alcançada até ali... acreditei no que foi dito. Mas disse ao gerente que iria arriscar até chegar ao nosso destino pois eu não imaginava o que fazer ali naquela situação e naquele lugar desconhecido para nós. O cara olhou para os gêmeos, já dentro do carro e me disse: "melhor o sr. se atrasar um pouco na viagem e evitar esse problema, já que o descobrimos a tempo...". Disse isso e pediu para eu esperar um pouco enquanto ele dava um telefonema. Logo pensei: "esse safado vai querer se aproveitar da nossa encrenca...".

Ele retornou logo e disse: "O chefe concordou, e o nosso boy vai com a moto na loja mais próxima daqui e trará a peça que falta, pois ele já conferiu que eles a tem lá. Então, deixe carro perto de vocês, e quando chegar a peça eu os chamarei". E ele ficou esperando minha resposta. Mas na minha cabeça, além dos habituais detritos, duas exclamações e indagações simultâneas ressoavam:
a) "Santa encrenca Batman ! Será que seremos explorados ?"
b) "Jesus amado ! Será que algum anjo cutucou esse rapaz do posto para nós ?"

Preferi acatar a segunda encucação. E disse para o rapaz que esperaria a tal peça chegar.
Ficamos por ali, eu e os meninos. Comemos... Até nos distraimos um pouco com a bola, afinal, crianças gêmeas precisam ter o que fazer, ou então tem que estar dormindo.

Não demorou tanto quanto eu previra, e a tal peça chegou. Veio um cara, olhou e logo foi trocando com a que estava defeituosa. Ficamos mais algum tempo com o carro ligado, acelerando e conferindo a temperatura e a água. Não esquentou mais como antes, e não mais vazava também. Tudo resolvido, portanto.

Eu disse "Graças a Deus" com uma sinceridade que eu gostaria de ter sempre. E fui até onde estava o caixa para saber o custo da operação.

Quando o rapaz disse que o chefe mandou "esquecer isso", pois são "besteirinhas que aparecem as vezes, mas na estrada pode ser perigoso...", minha sensação se confundia enquanto assimilava a mensagem, pois eu mesmo acreditei que alguém se aproveitaria de nosso problema para nos explorar, e agora assistíamos a um gesto tão fantástico, numa situação tão real, de maneira tão inesperada, que foi inevitável sentir arrependimento pela minha má expectativa inicial.

Seguimos viagem sem mais problemas e sem mais temores, e fiquei pensando, agradecido, e concluindo que: "Nenhum valor que eles cobrassem de nós poderia ser maior do que a experiência que aquele gesto nos proporcionou naquela oportunidade".

Como esquecer um momento assim ?

Sempre pode restar um sentimento fraterno em alguém que pode estar em algum lugar, (...) e sermos surpreendidos por algum real acontecimento, que nos ajudará a sermos alguém melhor do que pensávamos que éramos...

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