segunda-feira, 24 de setembro de 2012

NOSSA INEVITÁVEL HISTÓRIA

Hoje, 24 de setembro, Ariel José, nosso filho, completa 21 anos de idade, em plena saúde.
Saudamos igualmente seu irmão gêmeo, Matheus, que viveu até os 15 anos de idade, deixando depois um vazio irreparável em nossas vidas. Compartilhamos com todos a alegria de poder comemorar mais um momento significativo em nossa existência.

Lembrar que aos dois meses de idade, internado no hospital, Ariel não dava sinais de reação aos tratamentos pois sua desidratação, infecção intestinal, anemia, e outras consequências não davam chances a uma retomada de forças para superar tal situação. A última tentativa, segundo a médica responsável, seria uma transfusão de sangue, cuja autorização nos foi indagada caso houvesse algum problema de ordem religiosa, por exemplo. Para nós não havia. Seja feito o que for necessário e Deus decidirá o caminho a ser tomado.
Como eu disse, era a última tentativa segundo a medicina. Mas algo me chamou a atenção para perceber que poderia não ser ainda a "última" tentativa. O Ariel não se mexia, não abria os olhos, não dava qualquer sinal de movimento. Uma sensação de expectativa insuportável nos persegue nesses momentos.
O hospital tinha uma capela. E para lá eu fui com algum material da faculdade e fiquei lendo e pensando. Era dezembro, quase véspera de Natal. Em algum momento me ocorreu de propor algo aos céus. Por causa de alguma leitura que fiz no passado, me lembrei que São José era pai adotivo de Jesus, assim como eu do Ariel. Bem. O que custa propor ? De repente "cola" não é ?
Mais que proposta, era um pedido para que o Ariel demonstrasse algum sinal de que seria possível ficar mais tempo entre nós, pois essa situação era muito dolorosa para todos. Fiz a proposta, então, de que no caso de um sinal positivo, eu acrescentaria "José" ao nome de Ariel, como agradecimento ao sinal positivo mesmo que temporário fosse. Além disso, meu pai, falecido em 1974, também se chamava José e eu sempre me lembro dele nessas horas.
E assim ficou. Continuei estudando na capela, e depois de algum tempo resolvi voltar à enfermaria, na expectativa de algo de positivo que modificasse um pouco nosso ânimo. Estando lá, próximo ao berço do Ariel, fiquei olhando por alguns instantes. Ele continuava imóvel, claro. Mas de repente ele se virou um pouco para minha direção, abriu os olhinhos e deu um sorriso. Depois adormeceu.
Putz ! Deve ser isso... É isso ! disse eu. Se isso não for um claro sinal, então em que devemos acreditar ?
Era o tal sinal, pois na manhã seguinte a médica liga para minha esposa dizendo que não foi feita a transfusão de sangue prevista, pois o meninos havia tido uma reação surpreendente, reagindo aos tratamentos e vencendo a anemia de maneira rápida, de modo a tornar possível sua breve alta. Dessa forma, o Ano Novo se iniciou com o Ariel em casa, (agora Ariel José), já apto a enfrentar mais algumas difíceis séries de recuperações físicas, neurológicas e ortopédicas. Essas etapas trouxeram episódios também difíceis e surpreendentes, pois o diagnóstico e previsão era de que ele se tornaria um garoto com dificuldades de equilíbrio, reflexos, coordenação motora, por exemplo. Seu acompanhamento foi feito no Lar Escola São Francisco e no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.
Aos 5 anos de idade, a maneira como ele se portou no campeonato de queimada do colégio, nos deixou bem claro que nenhuma dessas sequelas haviam permanecido em seu organismo, pois já possuia os reflexos e equilíbrio bem mais precisos e seguros do que a maioria de seus coleguinhas. Para quem o conheceu desde bebê, era nítido o milagre, mais uma vez. Nada a ver com os diagnósticos e previsões médicas anteriores.
Após sua adolescência bem vivida, frequentou o exército, sem qualquer impedimento físico e hoje se preocupa com a forma física, como grande parte dos vaidosos jovens que conhecemos. Temos motivos gigantes para agradecer por essa trajetória, pois esse desenvolvimento do Ariel o fez, depois, o doador totalmente compatível de medula, quando seu irmão necessitou de transplante.
Quem diria ? Matheus nasceu e cresceu com perfeita saúde, permanentemente admirado por seu talento fora do normal nas práticas esportivas, o que incentivou também o Ariel a sempre acompanhar essas saudáveis atividades, e agora, justamente ele, Matheus, aos 12 anos, se descobre com um raro câncer que muda tudo. Por causa dessa possibilidade de doação de medula do Ariel, Matheus teve uma sobrevida e viveu até seus 15 anos. Nossa vida as vezes é surpreendente. Além de cruel...
Impossível não agradecer pela recuperação do Ariel aos 2 meses de idade.
Impossível não reconhecer a importância da família junto a nós.
Importante não esquecer porque ele se chama Ariel José.
Importante saber que ele está em nossa família por decisão e ação de Deus.
Importante lembrar que nossos amigos estavam conosco nessa caminhada.
Importante compartilhar isso com todos !

Feliz Aniversário ao Ariel.
Feliz Aniversário ao Matheus.

UMA ÓTIMA SEMANA A TODOS !

Cezar dos Reis